domingo, 25 de julho de 2010

Rancor

Quanto rancor se guarda em uma alma antes que ela exploda, suma e lhe faça esquecer do autocontrole?

Quantas frustrações, destemperos, decepções, feridas, angústias e raivas conseguem ser contidas antes que a razão resolva fazer greve, a consciência tirar férias, o bom senso lavar as mãos e os apegos sociais sejam jogados num canto escuro do superego que, por sua vez, resolve não mais tentar impedir o inevitável?

Quando chega o momento em que tudo entra em colapso, seu sistema torna-se catártico e você é comandado por nada menos que instintos. Neste instante, tua raiva passa a ser contra tudo e todos, e eles viram seus inimigos, rivais ou os grandes responsáveis pela atual situação.

Odeia tudo, todos, principalmente os que querem te ajudar. Porque não quer ser ajudado, teu Eu desistiu e você quer segui-lo com a fidelidade de um apóstolo e a fibra de um maratonista.

Isso tudo exceto por uma pessoa, que quando vê, ouve a voz ou simplesmente lhe chega o nome aos ouvidos, torna tudo melhor, completo, com algum propósito. Mesmo lhe vindo à cabeça que essa pessoa é a responsável por pela tua atual condição, que poderia ter feito diferente e não se frustrado tanto, ferido tanto, mudado tanto. Mas que independente disso, mantém-se convicto de que faria tudo novamente, e novamente e novamente. Sempre com a intenção de mudar algumas coisas, para que no fim o que não deu certo funcionasse e o que fossem frustrações se convertessem em sorrisos.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Espelho

É a raiva de minha própria imagem o que me consome nesse momento. A dor de lembrar o que fui e compreender o que agora sou, de imaginar o quanto mudei, o quanto morri e entender o pedaço de mim que falta.

Tudo isso porque falhei a falha dos fracos, dos enfeitiçados, dos emudecidos, dos enganados, dos substituídos, dos abandonados.

Falha que não me tirou uma certeza, já que foi responsabilidade minha e estava prevista que cedo ou tarde aconteceria. Certeza essa que agarro com unhas e dentes e na qual vou persistir até o fim da minha vida.

O que me dá a convicção de que cometeria esse erro em todas as vezes que fossem possíveis. Porque ele me fez diferente, mas também me fez melhor.

No entanto, queria novamente receber a dádiva de não me importar tanto, como sempre foi parte de mim. Pois sem ela, tudo relacionado me atinge, afeta e machuca. Como também me obriga a abdicar de coisas que nunca abriria mão, já que não faria parte delas.

Queria ter paz para preencher por algum tempo – e me sentir melhor – no vazio que pertence a você.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Carta de despedida

Um litro e meio de café forte, amargo, esquecidos no bule por puro descaso causado pelos fatos. A garrafa térmica ficou sobre a mesa, ansiosa, desamparada, classificou-se inútil quando tudo o que podia fazer era observar o líquido que tanto esperava ser despejado esfriar estático, vítima das intempéries comuns ao mundo, que o fazem ser fascinante da forma que é.

Novamente por descaso, o café, que já não bastasse estar sendo requentado, foi esquecido no bule até gerar pressão suficiente para fugir de seu recipiente, gerar caos, sujeira, confusão, gritaria.

Foi então, outra vez esquecido, cansado e frustrado. Dessa vez, diretamente de encontro à garrafa, para que não perdesse o pouco calor que ainda restava.

Mas agora, além de requentado e queimado, o café estava frio. E ao menos ele saborearia a réplica simbolizada pela repulsa de quem o tomasse, já que para se sentir melhor, faria aqueles ao seu redor pagarem.

Mas um, ainda assim tomava – porque apesar disso, era grato pelo café mantê-lo acordado – e se sentiria mal por sorver estes últimos goles e não achar que deva ter esperança por próximos.

Em memória

- Engraçado. É engraçado como só agora que não vou mais poder te ver, lembro do quanto sinto tua falta. Passo a remoer tudo o que passamos, as maluquices, os limites que tentamos alcançar, mesmo quando distantes, fazíamos alguma merda pensando no que o outro seria capaz se na mesma situação. – ele disse a si mesmo enquanto via fotos antigas, algumas amassadas, que haviam sido esquecidas em um canto qualquer. Mal lembrava-se da amiga com a qual passara quatro anos intensos, dos quais quase não lembrava, graças à abençoada amnésia alcoólica. E, que anos depois, não repetindo nada próximo daquilo mantinha-se orgulhoso de tudo o que não fazia ideia do que havia feito.

- Desculpa não avisar, não queria você preocupado. – imaginou a amiga dizer – E, acima de tudo, não queria te dar a chance de dizer "eu avisei".

- Foda-se. Estar ao seu lado nesse momento era mais importante do que qualquer disputa de egos que nós tivéssemos. Só diria "eu avisei" quando se recuperasse.

- Então vai guardar isso entalado na garganta a vida inteira?

- Isso não é hora, Lu. Eu sequer vou ser capaz de me despedir, queria ao menos poder fazer isso. – lágrimas teimavam em encontrar seu caminho.

- Pensa comigo, cabeça: Ia basicamente largar o trabalho pelo qual só não deu seu fígado porque ele ainda não tava inteiro o suficiente e, também, ia me ver aos pedaços. A bunda da qual tanto gostava não ia ter nem sinal do que já chegou a ser. Convenhamos, seria broxante.

- Não interessa, é minha amiga, eu sempre insisti pra que largasse essa porra de cigarro, mas nunca parou. Eu tinha o direito de saber que isso tava te matando. – uma vontade súbita de abraçar o tomou, o desejo de adeus tornou-se físico.

- E eu tinha o direito de não te dizer nada e deixar com que seguisse sua vida. – ele sentiu a vontade dela, por mais esquizofrênica que fosse, de retribuir.

- O problema é que isso sequer pode ser considerado uma despedida. Não te vejo e não nos falamos há mais de um ano, certeza que por causa da doença.

- E não fazendo mais parte da minha vida, deveria não fazer parte de minha morte.

- Não é assim que funciona com os bons amigos.

- Não é assim que funciona nossa amizade. A viadice fica por minha conta, mesmo quando só você restou. Agora, antes que eu vá de vez, não tem nada mesmo a dizer?

- Obrigado.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Lhe guardo o que dizer

Saí de encontro à sarjeta, hoje é a única a qual pertenço, nela guardo memórias, e quando as quero, me ofereço.

Procuro sufocar a angústia, afogar o que mereço, lembrar do que foi bom, e pensar no que esqueço. Ver o futuro que havia imaginado, quando apenas pertencia à sarjeta, e seu cheiro era adocicado. Então me lembro da brisa branda, sem culpas, ou promessas. De quando não tinha nenhum peso nas costas, de quão fácil tudo era.

Logo divago sobre como quero que tudo isso volte, mas então a sarjeta me puxa, e recorda minha morte.

Então bêbado vomito nela tudo o que guardei, ela escuta calmamente, entre pausas e suporte, lembra que nada pode mudar o que fui ou o que deixei. No fim, é a única voz que realmente ouço – minha própria, na sarjeta – apenas dela posso aceitar ofensas, já que só a mim, ouço.

Ela disse que posso voltar a ser eu, ainda que em parte seu. Mas nunca devo me esquecer, que o que eu era me tornou assim, melhor inclusive nos defeitos recorrentes.

A sarjeta explicou que esse novo eu, só somaria ao antigo. E que seria ainda melhor com todos, por mais que deseje estar contigo.

sábado, 29 de maio de 2010

Reminiscência

- Que fique clara uma coisa nessa conversa: sou um fracasso, não precisa exaltar, ou mesmo me lembrar disso. Minha consciência o faz por conta própria, com um êxito digno de memória, se não o fosse de pena. – foram as primeiras palavras de Marcel, ao encontrar-se com Álvaro, amigo de infância, pelo qual se habituou a tratar como Gambelli, seu sobrenome. Essa foi uma daquelas chamadas emergenciais que ambos faziam em momentos que só o outro seria capaz de ajudá-lo.

- Há quanto tempo fazemos isso? – ignorou o discurso introdutório, sabendo que era isso o que seu amigo esperava.

- Sei lá, desde os doze? – Marcel tentava puxar a informação da memória, se distraiu com uma mulher de vestido que passava pela rua, até pescar a resposta. – Sim, desde quando foi chutado pela sua professora de Educação Física e começamos a nos reunir no jardim do meu prédio.

Eles não mais se encontravam lá, Marcel havia se mudado aos vinte e três para morar sozinho, em uma kitinete no centro. Agora usavam o bar que Álvaro herdara do pai. Ele até fechava-o mais cedo para que pudessem ficar a vontade.

- Agora pode dizer o que me obrigou a fechar o bar às oito da noite em uma sexta-feira e me fez ouvir você choramingando sem nem dar um oi ou dizer que a irmã continua gostosa? – Álvaro disse entre risadas enquanto ia para trás do balcão e pegava duas garrafas de cerveja na geladeira, que Marcel de pronto aceitou e abriu, tomando direto do gargalo.

- Preferi ir direto ao ponto. Não vou ter os ataques de carência que teve quando aquele cego ficou com seu emprego, não preciso disso, Gambelli. – recuou, temeu pela reação do amigo com a lembrança do fato, então morto entre eles.

- Ok, então. O que houve? – disse, sem dar bola para a provocação.

- Nada de grave, só vim vomitar minha filosofia barata nas suas canecas de chope. – Álvaro virou para ele um olhar engraçado, de quem não engole a conversa. – Não vem com essa cara pra cima de mim, Gambelli, é sério! Não foi nada grave, mas foi importante ao ponto de me fazer enxergar as coisas da maneira mais certa.

- Não tomou nem metade da garrafa e já vem com esse papo de bêbado?

- Não é papo de bêbado! Algo que me aconteceu, abriu meus olhos pra uma verdade que de todos fica escondida! – Marcel virou tudo em uma golada.

- Ok, e que verdade é essa? – Álvaro finalmente abria sua garrafa.

- A de que o amor odeia a nós todos! – abriu os olhos, como se esperasse pelo amigo exaltando sua genialidade, não obteve nenhum sucesso.

- Quer dizer, supondo que o amor é uma entidade física?

Houve um silencio constrangedor por um curto período, Marcel fazia o som de estalos com a boca enquanto tentava formar o raciocínio para dar a resposta mais satisfatória possível. Nisso, Gambelli terminou sua garrafa, e foi até a cozinha, nos fundos do bar, buscar algo para comer.

Voltou com um salgadinho gorduroso, que pareceu agradar aos olhos pensativos e inquisitivos de Marcel, que decidiu pular sobre o balcão, puxar a porta da geladeira com as pontas dos dedos, e com eles, apanhar outra garrafa, quase a derrubando.

- Bêbado.

- Gordo.

Álvaro riu, virou-se e pegou outra garrafa para si. Abriu quando o amigo terminou de beber a dele.

- Onde eu estava? Ah, sim! O amor é uma entidade física, quando parasita nas pessoas, meu amigo. Porque é isso o que ele faz, parasitar. Toma controle dos mais fracos e os faz rastejar, perder a dignidade, o amor próprio, a liberdade. Os prende às coisas que são menos importantes do que eles mesmos. Todo o resto. – esperou Álvaro terminar. – Descobri isso sendo tomado por esse veneno, ser diminuído, ludibriado, esquecido, chutado. E isso tudo aconteceu enquanto as coisas pareciam bem, já que aquilo que te infligem só é revelado no momento em que o parasita não tem mais o que sugar.

- Você sabe que isso não quer dizer coisa com coisa, não sabe? – o som das buzinas na avenida movimentada ao lado do bar se fizeram presentes.

- E mesmo assim, estou certo de que já teve essa exata sensação. A de que foi usado, do fracasso, de que não foi suficiente, ou nunca vai ser. O momento emo pelo qual todo barbado passa para se enxergar humano, falho. Estúpido. – Álvaro titubeou ao responder, o que fez Marcel continuar o monólogo. – Viu só? Todo mundo passou por isso, ou vai passar em algum momento. Mas sabe o que te torna ainda mais digno de pena? – a resposta foi requisitada com silencio. – No fim, quer aquilo de volta, exatamente como era. Quer de novo, de novo e de novo. Mas o mais triste, é quando quer novamente com tanta precisão, que deseja até a mesma pessoa a quem não foi satisfatório, com quem falhou, pura necessidade mesquinha já que não aguenta ficar um minuto sequer sem falar com ela, sobre qualquer assunto. Sente falta da voz, do sorriso. Isso tudo dói agudo, mas precisa pensar que vai ter tudo de novo porque lhe faz bem.

Ele levantou-se do banco, foi até uma janela do bar que ainda não havia sido coberta pela camada de aço e observou a rua, com os carros parados, pedindo por movimento e passagem.

- Seu silêncio mostra que se sente exatamente igual. Agora também se pergunta como sei de tudo isso. – vira-se para o amigo. – Deveria se perguntar a quanto tempo não nos reunimos aqui.

- Três anos.

- Isso mesmo! Três anos! E qual foi a última vez que nos reunimos? – aproximou-se do balcão novamente.

- No hospital. Antes de… – voz embargada. Silencio.

- Antes de eu morrer, Gambelli. Antes de eu dizer "até mais" para toda essa rotina de merda. – foi para trás do balcão e apoiou-se no braço do amigo. – Mas ainda assim, quando alguém pisa em você, precisa de mim pra pensar no que acontece por dentro. Quer-me pra colocar suas ideias no lugar. Pra fazer aquele discurso do começo lembrando quão patético é, só que falando por mim. Mas não se preocupe, meu amigo, todos precisam de algo assim, você só exteriorizou um pouco mais, já que precisava acalmar essa dor que nunca sentiu e não sabe como tratar. Tudo o que tenho para você é um conselho: Para de se lamentar e volte a ser aquele Álvaro com o qual cresci.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Caverna

Sol nascido, Luz forte nos olhos fechado impedindo um sono confortável. Incomodo respondido com um espreguiço exagerado, intentando espantar a lentidão comum às manhãs.

Cumpriu sua rotina matinal, terminando-a com um desjejum insosso, até meio rançoso. Mas já estava habituado, vinha comendo a mesma coisa havia alguns dias. A única coisa que mudara era a Luz acordando-o. Tudo o que havia feito de diferente na noite anterior tinha sido dormir em um lugar diferente do comum, o primeiro onde deitara, tamanho seu cansaço. E esse pequeno detalhe, que sempre esteve lá, mas nunca tinha sido percebido, fez tudo parecer diferente. A comida continuava sendo ruim, mas ele a ingeria com satisfação, pois havia acordado com um bom sinal, cheio de beleza, que o Homem ainda não havia notado, mas estava fora de seu alcance, já que tudo o que podia era sentir seu calor e ofuscar-se com seu brilho, que sem cerimônias rasgou a escuridão que antes tomava o lugar e blindava seu habitante, mas tornava a vida dele apenas e até então, tão somente dele.

O Homem queria passar o resto da vida apenas observando a Luz se estabelecer, bruxulear quando bloqueada por alguém de passagem, viver seu ciclo.

No entanto, seu dia mal havia começado, ele estava ciente disso, mas tudo o que conseguia era fazer o que sempre lhe foi devido em todos os anos antes, porém, sem nunca tirar os olhos da Luz, que mais e mais invadia o espaço ao qual até então só pertencia à escuridão. E aquela rotina simplória o hipnotizava.

Foi à tarde que o brilho mais se fez presente, como se ao lugar sempre pertencesse, tomou posse de tudo aquilo que o homem chamava de lar, que via como si.

Isso tornou sua segunda refeição tão saborosa quanto a ambrosia deveria ser. Os momentos passavam como uma eternidade, a Luz queria tocá-lo, e ele a encarava como sua, apesar de até então, não tê-la de fato.

Em seu apogeu, a Luz o completou e preencheu. Estava por toda parte, ao mesmo tempo em que sempre podia ser vista ao lado do Homem. O alivio agora era parte dessa casa, tudo ali a refletia da mesma forma que tudo ali parecia nunca mais querer deixá-la.

Graças a isso, a tarde tornou-se ainda mais lenta e saborosa, onde cada minuto podia ser aproveitado e apreciado. E em cada um destes momentos, ele podia sentir que esta luz tenra e acalentadora lhe pertencia. Mas já chegava o fim da tarde, ela começava a desvanecer, falhar, ameaçar deixá-lo, sem que o Homem sequer percebesse.

Ao anoitecer, era impossível não notar a Luz afastando-se de maneira ameaçadora, querendo se despedir sem saber como, deixando-o com um alarde sonoro, mas que podia ser apenas ouvido por ele. A mesma ufania com a qual se fez presente.

Com isso, a noite foi tornando-se fria, desolada. Tudo parecia igual a maneira que sempre havia sido até então.

O Homem não queria isso, ofertou tudo o que acreditava ser do desejo da Luz, que só respondia afastando-se ainda mais. Ele então correu para alcançá-la, fazer o possível para não perdê-la, a trazer de volta.

Porém não houve sucesso, ela continuou seu caminho para cada vez mais longe do Homem em uma lentidão agonizante que entalou na garganta e o impediu de falar, se manifestar, pedir para que ela voltasse, dizer o quanto a quer de volta. Mas tudo foi em vão, ela estava cada vez mais longe, e tudo ao que ele podia se apegar agora eram os planos que traçara desde o momento em que primeiro viu a Luz. E isso, no fim, foi tudo o que lhe restou. Já que os planos tornaram-se lembranças, as quais ele não iria querer resgatar. Ele queria lamentar, mas não sabia como quando notou que tudo o que restara da Luz era sua melancolia encarnada, a Lua. Ainda linda como sempre foi, mas muito além de qualquer alcance.

E mais uma vez a escuridão tomou conta dele, vazia, sem propósito, amarga e eterna. Esse era seu jantar.

Tudo o que lhe restou foi conviver com o desejo e a angústia. Engolir isso tudo enquanto espera ela voltar.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Rompendo as barreiras.

Então eram um turbilhão de membros, um amálgama de sexos. Misto de pele e desejos , sonhos e fúria. Nenhum dos dois conseguia se lembrar exatamente de como havia começado, mas nada mais poderia pará-los. Eram lábios, língua, dentes, se digladiando para arrancar pedaços voluptuosos do outro, unhas se cravam, sangue escorre, batidas, hematomas, dor, arfados, gemidos e delírio. Puro delírio...
As roupas eram descartadas como se nada fosse mais natural, até porque estavam lá apenas simbolicamente, a união já estava tão consumada em suas mentes que o ato já estava ocorrendo, através de tecido, espaço, e qualquer outro obstáculo.
As respirações se tornam mais ritmadas, o clímax se aproxima, os corações batem com a fúria de mil baterias, os gritos se tornam urros,
Momentos simbólicos de êxtase vem e vão, e a competição sem vencedores segue num ritmo crescente, quando o ápice-mor finalmente ocorre. Ao cairem ao chão , deslizando pela parede , trocam algumas palavras:

"Eu... te... amo"

"Meu, calaboca , amor não tem nada a ver com isso!"

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Lethal Strip Flush

Minhas mãos ágeis mexem nas cartas, rapidamente, conforme avalio meu jogo. Finjo me concentrar muito, enquanto me esforço para admirar a abertura de seu vestido, que me faz devanear por entre locais indômitos. A, o que eu não daria por um aljôfar de seu gosto, por um toque naquela pele macia. Volto ao pôquer, ao notar uma certa desconfiança do crupiê em relação ao meu comportamento.

Nas 10 rodadas seguintes, só aposto muito quando sei que vou perder, faz tudo parte do jogo. Manipulo a mesa para ela achar que está difícil, faço apostas de forma a fazê-la pensar que tenho tudo, evito mostrar minha mão e xingo e em enervo quando perco. Ganho uma ou outra para evitar desconfiança.

Depois de algumas centenas de milhares eu pareço patético e "arrisco" tudo num lance só.
Perco com vontade, meu "All In" fracasssado me consome por dentro, perdi dinheiro suficiente para manter uma família de classe média feliz por uma década.
Meus lábios tremem, e eu ofereço um brinde a ela. Proponho mais uma rodada , apostando meu carro (um desses esportivos que valem mais do que muitas mansões, mas cujo nome eu nem me dou ao trabalho de decorar) contra a promessa dela de um drinque comigo para celebrar sua vitória.Ela aceita.

Eu jogo a rodada seguinte de forma que nem o demônio seria capaz. Vitória fácil, me levanto triunfante, ela enlaça meu braço e vamos ao meu quarto para o drinque: o que vem em seguida é uma nova versão do que houve antes, um jogo de suor e tentativas, blefes e expectativas, charme, violência, truqes na manga, apostas e prazer da vitória, além de uma certa tristeza porque acabou.

Duas horas depois meu saldo é o que eu esperava: gastei dinheiro suficiente para acabar comas finanças de muita gente, mas passei a noite com uma mulher tão rica, maravilhosa, sensual e desejada que dinheiro algum poderia comprar diretamente, nem mesmo com meu charme incluso na equação... até que percebo uma estranha movimentação e finalmente entendo. Eu adormeci e deixei minahs coisas desprotagidas: ela pode ter pego meus cartões, minha chave do carro, tudo o que eu imaginei que poderia ganhar de volta no jogo, mas não se ela os tomar de outra forma.

Me levantoi decidido a encontrá-la quando me deparo com ela sentada, já vestida, de frente para mim, segurando uma arma em uma das mãos e uma fotografia na outra. Olhando para a fotografia não entendo, penso tratar-se de um assalto ou sequestro, quando ela finalmente abre a boca e diz:" Não a reconhece? Uma pena, vcocê vai sofrer a vingança sem nem se lembrar de seu pecado. A pobre moçoila se apaixonou por você , e você a usou como pôde. Ela não aguentou a pressão e se suicidou. Agora a irmã dela me contratou para fazer você sentir uma dor similar..."

Me desespero e me atiro de joelhos, tentando usar o meu charme e a piedade dela para me salvar, ams ela só parece se divertir mais com a cena, quando reparo numa câmera filmadora com tripé posicionada à minha esquerda. Alguém deve estar assistindo isso, mas é tarde demais para ligar para a minha dignidade.

Ela volta a falar: " Agora, é bom que saiba o que vai acontecer, lhe darei três tiros, e nunca saberão pelo que você morreu, já temos uma equipe preparada para revelar todas as suas sujeiras, suas dívidas, as vezes que subornou autoridades para se safar, sua covardia em vídeo, como deve ter notado, em suma, você não só vai morrer, mas não vai deixar nenhuma boa lembrança. Pronto para receber o que merece, projeto de homem?"

Começo a chorar desesperado, meu charme se despedaça, minha pose se desfaz e sou só mais um pobre coitado no chão, quando vejo-a afixar um silenciador à pistola, fecho meus olhos e começo a rezar, com fervor de verdade pela primeira vez em minha vida, e aí vêm os três tiros rápidos. Demoro um pouco para perceber que ainda estou vivo. Sinto dor nas mãos e na virilha, ao abrir os olhos, reparo no que ela fez, antes de ouvir a gargalhada cruel. Ela me incapacitou de jogar e de fazer sexo, tudo o que me dava prazer na vida, no ponto em que cheguei.
Irrompo em gritos e choro desesperado, pedindo-lhe que me mate de uma vez, ela apenas sorri, joga a arma pela janela do quarto, me dá um chute, me derrubando deitado e sai pela porta, calmamente.

Alguns minutos de dor e depressão depois, entram pela porta vários jornalistas e fotógrafos, seguidos de perto pro paramédicos, já consigo ver a primeira página do jornal: "Playboy milionário é aleijado por vingança" ,"Figurão quase morre por dívidas de drogas".
Sigo na maca despedaçado , tentando entender o que farei de minah vida agora, e não posso deixar de notar os sorrisos das pessoas.

Não importa quão bem se jogue, um dia todo mundo pega uma mão ruim.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Sensualidade Diáfana



Ela se deitou, envolta em adereços e ilusões, fazendo sua melhor pose, aquela que sabia que despertaria desejos sádicos e sangrentos nos alvos daquele estratagema.
A pessoa que comandava o show lhe dava as orientações e ela sentia aquela mesma conhecida sensação, ao dar todos os seus toques pessoais naquela demonstração de sensualidade e desejo.Uma pena que a maior parte do mistério e excitação já houvessem se dissolvido.

Se sentia por demais humana , frágil e aborrecida sob aquelas luzes brilhantes e aqueles olhares lúbricos, sabia que o encanto se fora. Mesmo assim, representava seu papel, sabendo que poderia perder seu lugar se seu desempenho não fosse sempre o melhor.

Não conseguia mais entender os desejos que despertava tão nitidamente, começava a reconhecer suas falhas, as repetições, o enfado que provavelmente já transpareceria em seus clientes. Clientes indiretos é claro, ela nunca vendera seu corpo ao vivo de verdade, não por pudor mas por um fator muito mais importante. Sabia que ao vivo não seria tão mística e sedutora, tão fatal e charmosa, tão poderosa e arrebatadora. Sentia que seria apenas humana demais, simples demais, ao se despir de todos os adereços, trespassar todos so fetiches e se entregar.

E por isso todos os dias ela voltava a dar o melhor de si para vender uma imagem a qual nunca se acharia capaz de superar realmente, apenas para garantir sua sobrevivência, e pelo prazer simples de se sentir elevada acima do patamar no qual sempre se encontrara: o dos reles mortais.